Uma pesquisa desenvolvida pela Epagri em Chapecó revelou que antecipar a semeadura do trigo pode ser a chave para ampliar a produção do cereal no Oeste de Santa Catarina. A recomendação é que o cultivo seja feito entre os dias 11 de maio e 17 de junho. O resultado: colheita antecipada, antes da janela ideal para o plantio da soja, que é a cultura seguinte na maioria das propriedades da região.
A mudança, além de otimizar o calendário agrícola, também incentiva o uso das terras no período de inverno, reduzindo o tempo de pousio. “Antecipar a semeadura melhora a eficiência produtiva e aproveita melhor as condições climáticas, com menor risco de geadas e maior desenvolvimento das plantas”, explica Sydney Kavalco, pesquisador da Epagri.
Resultados da pesquisa
O estudo, conduzido em parceria com a CooperAlfa entre 2018 e 2023, apontou que cultivares como TBIO Ponteiro, TBIO Motriz e BRS 374 tiveram desempenho superior quando plantados dentro da janela recomendada. Em todos os ensaios, os cultivos atingiram a maturação fisiológica e foram colhidos até o fim de outubro, alcançando produtividades acima de 4 toneladas por hectare.
A escolha adequada das cultivares é essencial para obter bons resultados, conforme detalha o Boletim Técnico nº 224 da Epagri, disponível gratuitamente para download.
Sustentabilidade e políticas públicas
Além de mais produtiva, a prática é reconhecida por instituições oficiais, permitindo acesso a seguros agrícolas e ao zoneamento do Ministério da Agricultura. A rotação de culturas e a cobertura do solo com cereais de inverno também colaboram para a conservação da terra.
Nos últimos anos, Santa Catarina mais que dobrou sua área de cultivo de trigo — de 58 mil hectares na safra 2020/21 para 123 mil hectares em 2024/25 — e o avanço tem contado com o apoio de políticas públicas, como o Projeto Cultivo de Cereais de Inverno, parte do Programa Terra Boa. A iniciativa, coordenada pela Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária, busca reduzir o déficit de milho para ração animal, estimulando o cultivo de cereais no inverno.
Neste ano, o projeto deve receber R$ 4,1 milhões em investimentos e atingir até 10 mil hectares cultivados, com subvenções por hectare para agricultores que firmarem parceria com cooperativas ou casas agropecuárias credenciadas. O apoio é limitado a 10 hectares por produtor e exige adesão às orientações técnicas da Epagri.
Embora tenha grande potencial, Santa Catarina ainda representa apenas 4% da produção nacional de trigo. A sobreposição de calendário com a soja ainda é um dos principais entraves. Mas a nova orientação técnica pode mudar esse cenário e consolidar o Estado como uma referência também na produção de trigo.